Pesquisadores aguardam liberação da Anvisa para darem início à fase de testes em humanos, que terá três etapas
O Laboratório de Biotecnologia e Biologia Molecular (LBBM) da Universidade Estadual do Ceará (Uece) é o responsável pelo desenvolvimento da vacina HH-120-Defenser, imunizante cearense que aguarda autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para ser testado em humanos. Na manhã desta sexta-feira (14), o governador Camilo Santana foi até o local para conversar com os pesquisadores e conhecer o local onde está sendo alimentado o sonho cearense de produzir sua própria vacina contra a Covid-19.
A ida do chefe do Executivo estadual ao laboratório foi um gesto para dar visibilidade ao trabalho de muitos estudiosos que dedicam suas carreiras a pesquisar formas de melhorar a vida da população. “Estamos aqui para mostrar o papel da Ciência e da pesquisa da nossa Universidade. É através da Ciência e da pesquisa que se desenvolvem tecnologias e ações para salvar vidas, melhorar a economia e a vida das pessoas. Essa é a compreensão que o Estado tem ao investir na ciência e tecnologia”, enfatizou o governador.
O estudo da vacina cearense começou em abril de 2020, tendo como ponto de partida o conhecimento já existente sobre o coronavírus aviário atenuado, semelhante ao SARS- CoV-2, e que já vem sendo utilizado há muito tempo e não tem potencial agressor em humanos, como explica a coordenadora do LBBM, Izabel Florindo Guedes. “É um vírus não infectante para humanos, mas ele induz a uma resposta de proteção. Faz com que as pessoas desenvolvam anticorpos, neutralizando o SARS-CoV-2, que é um vírus que ainda estamos aprendendo sobre ele”, comentou a professora imunologista.
De acordo com Ney Carvalho, pesquisador do LBBM/Uece e doutorando do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia, a “ideia foi justamente fazer uma vacina que pudesse ter um custo barato e consequentemente apresentar uma resposta imune satisfatória, e foi isso que aconteceu”. Ney conclui que a vacina já é muito estudada no mundo, mas com foco para uma outra área. “Agora a gente resolveu adotar dentro da área humana e os resultados têm sido promissores”, revela.
A HH-120-Defenser aguarda aprovação da Anvisa para iniciar o teste em humanos, que contará com três etapas: 100 pessoas adultas, de idade entre 18 e 60 anos, que não possuam comorbidades; pessoas com comorbidades que tenham mais de 60 anos; e, por fim, os testes em milhares de pessoas de variados perfis. A primeira fase da investigação foi feita em camundongos e concluída com sucesso. O governador comemorou o fato da solução para a pandemia poder ser encontrada dentro de casa. “Desde o ano passado que temos tentado comprar vacinas da Pfizer, Sputinik, da China, e agora temos a possibilidade de ter uma vacina produzida aqui no Ceará, com custo mais baixo, melhor aplicabilidade. Isso é Ciência, isso é pesquisa”, enalteceu.
Camilo Santana afirmou que o Governo do Ceará já está articulando com outros órgãos, como a Universidade Federal do Ceará (UFC) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), para construir uma corrente na área de pesquisa e desenvolvimento da vacina. O gestor estadual também citou outras pesquisas que estão em andamento na Uece e que podem ajudar no combate à pandemia, como a produção de um respirador e um teste rápido de baixo custo.
O titular da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Educação Superior (Secitece), Inácio Arruda, reconheceu o papel da universidade neste momento difícil que a humanidade atravessa. “É um fato histórico. Há alguns anos que a gente lida com a Universidade Estadual e este é um momento muito peculiar por causa da pandemia. A universidade voltou-se para discutir e pesquisar esse vírus tão letal”, disse. O secretário destacou que o governador decidiu direcionar recursos do Fundo de Inovação Tecnológica para a pesquisa da vacina.