Salas de aula repletas de alunos, mas cheias, principalmente, de esperança. Foi assim o início do trabalho do Serviço Social da Indústria (SESI Ceará) dentro de unidades do Sistema Prisional cearense, em uma iniciativa inédita para a instituição. Já são 12 turmas, atingindo cerca de 400 alunos apenas com o projeto-piloto no Instituto Penal Professor Olavo Oliveira (IPPOO) II. A ideia é replicar a iniciativa em outras unidades e elevar a escolaridade do maior número possível de internos. As aulas abrangem Ensino Fundamental e Ensino Médio.
“O SESI Ceará tem a educação no cerne de sua missão. Muito se fala que a educação muda a vida das pessoas, mas para isso é necessário que a educação chegue até quem precisa ter a vida mudada. A oportunidade de levar a nossa expertise para dentro do Sistema Prisional é exercer, de fato, a nossa função social e contribuir para uma sociedade melhor”, disse Veridiana Soárez, superintendente do SESI Ceará.
A aula inaugural foi realizada na última segunda-feira (9/11), com uma apresentação teatral para dar as boas-vindas aos estudantes. “Este trabalho é diferente de tudo o que eu já tinha feito. Apresentamos um número de comédia, com dois palhaços, e tivemos uma ótima receptividade das turmas. Nós temos a missão de levar conteúdo, mas também autoestima e valores para esses alunos”, disse Paulo Roberto, ator e analista de processos educacionais do SESI Ceará.
A ação faz parte de uma série de iniciativas encabeçada pela Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC) em parceria com a Secretaria de Administração Penitenciária (SAP), que inclui também a oferta de cursos do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI Ceará) aos internos. “O objetivo é proporcionar a ressocialização através da educação”, diz Daniele Santos, coordenadora pedagógica do SESI Ceará.
Entre os diferenciais das aulas ministradas pelo SESI Ceará está a Metodologia de Reconhecimento de Saberes (MRS), utilizada no Ensino Médio e nos anos final do Ensino Fundamental.
Metodologia de Reconhecimento de Saberes
A MRS se propõe a identificar as competências desenvolvidas pelos alunos adultos ao longo de sua vida, mesmo que tenham sido adquiridas fora da escola. Assim, o tempo de permanência em sala de aula pode diminuir substancialmente, fazendo com que os estudantes conquistem o tão sonhado diploma em apenas quatro meses.
“O adulto que não passou pela escola também cresceu, amadureceu e aprendeu. Ele não ficou parado. E o que foi apreendido em sua trajetória pessoal precisa ser considerado”, explica Genuíno Bordignon, consultor do SESI e um dos idealizadores da metodologia.
Por meio da aplicação de exercícios bem diferentes de uma prova regular, o SESI identifica os conhecimentos que o estudante já possui, poupando tempo. Se identificadas todas as competências exigidas, o aluno recebe o certificado de conclusão do Ensino Fundamental ou Médio ao final do processo. Há ainda a possibilidade de o estudante cursar apenas as disciplinas daquela área do conhecimento na qual tem mais dificuldade, diminuindo sua estadia na escola.
Segundo Bordignon, um dos principais problemas que leva jovens e adultos à evasão escolar no EJA é seu modelo atual, com um currículo que foge à realidade dos estudantes. “O currículo é a pista escolar feita para a criança e o adolescente seguirem uma trilha de aprendizagem. O adulto que não criou essa pista, ficou como um germe empacado? Não, trilhou sua trilha por fora”.
Baseado na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, que prevê que é possível reconhecer as competências já desenvolvidas pelos estudantes adultos, a metodologia “Reconhecimento de Saberes” arranjou meios de tornar isso possível. O princípio é escutar o estudante, para que este mostre seus conhecimentos adquiridos durante a vida, dando a ele confiança.